content

Grazi Mendes: diversidade não é moda, diversidade é fato

Head de Diversidade, Equidade e Inclusão da ThoughtWorks foi a convidada da Aula ao Vivo do mês de agosto.

 

No Brasil, 24% das pessoas declaram ter algum tipo de deficiência, no entanto, menos de 1% está ativa no mercado de trabalho formal. Esse é apenas um dos dados apresentados por Grazi Mendes, executiva de tecnologia, professora e palestrante, ao argumentar que: “diversidade não está na moda, diversidade é fato”.

 

Head de Diversidade, Equidade e Inclusão na ThoughtWorks, consultoria global de tecnologia, Grazi foi a convidada da Aula ao Vivo FIA Online do mês de agosto. Com 20 anos de experiência com atuação em empresas nacionais e multinacionais de diversos segmentos, é também colunista da revista MIT Sloan Review Brasil, cofundadora da Ponte, hub de diversidade e inclusão e do cursinho popular Pré-Enem Morro do Papagaio.

 

Eleita profissional da área de Pessoas pelo prêmio Ser Humano 2020 e Top Voices Carreira no LinkedIn no Brasil 2022, a executiva mostrou que a falta de diversidade e inclusão nas organizações tem forte impacto na construção de soluções.

 

Você também pode se interessar pelo artigo Diversidade e empreendedorismo social pautam fala de Nina Silva.

 

São exemplos a aplicação de foto do ator Michael B. Jordan em lista de suspeitos por uma chacina, a inteligência artificial da Amazon que eliminava mulheres em processos seletivos e os parâmetros que aumentam em 17% o risco de morte de mulheres em colisões, no comparativo com homens.

 

Segundo Grazi, para que situações como essas não se repitam, é fundamental que a pluralidade da sociedade esteja refletida dentro das organizações, especialmente entre os tomadores de decisão. Isso significa que ainda é necessário trazer para as empresas o chamado “olhar opositor”, como define a autora Bell Hooks.

 

“Falar sobre diversidade e inclusão é falar sobre outras possibilidades. E sobre como podemos, a partir do nosso contexto, do core do nosso negócio e não de uma ação isolada, refletir a sociedade dentro do negócio e naquilo que eu crio”, esclareceu.

 

Iniciativas corporativas para diversidade e inclusão

 

No Brasil, 56% das pessoas são negras, mas apenas 4% exercem cargos executivos dentre as maiores empresas. Enquanto mulher negra, Grazi é parte de 27% da população do País, e está entre 0,4% que ocupam posições semelhantes à sua. “Essa é a realidade nos trouxe até aqui, mas a tecnologia pode ajudar a construir outras perspectivas, outras narrativas”, considerou.

 

Para criar cenários mais plurais, a ThoughtWorks conta com um programa de recrutamento exclusivo para pessoas negras, grupo que, atualmente, representa cerca de 10% dos profissionais da área de tecnologia. A iniciativa, lançada em 2018, é uma das pioneiras no Brasil.

 

Mais recentemente, a empresa lançou o programa Inclua, que oferece uma formação gratuita em programação para inclusão de pessoas com deficiência no mercado de tecnologia. Outro exemplo é o projeto Fábulas da Conexão, realizado pela Vivo em 2020, com foco em promover a representatividade e a cultura afro do País.

 

Combate à padronização

 

Às empresas, Grazi diz que é importante estar atento ao excesso de padronização e homogeneidade. “Não só de processos, mas também com relação às posições. Quem está nos cargos de poder, quem é promovido, quem precisa se desdobrar mais para estar onde está”, pontua.

 

Nos Estados Unidos, por exemplo, uma pesquisa mostrou que há mais CEOS chamados John e David do que mulheres ocupando o mesmo cargo. Vale destacar que, no país, apenas 2% da população se chama John e 1%, David.

 

Já no Brasil, uma mulher negra, estatisticamente, ganha o equivalente a 43% do salário de um homem branco com as mesmas qualificações. “Hoje, vejo questionar muito as práticas de inclusão, de diversidade e de equidade, mas pouco se questiona o padrão estabelecido”, acrescenta.

 

Nesse sentido, a capacidade de repensar e desaprender passa a ser muito potente e tão relevante quanto a habilidade de aprender, de acordo com a executiva. "A forma como a gente percebe e interage com a realidade parte de um tipo de olhar, e o convite para essa discussão é que a gente possa trocar essa lente por uma lente de inclusão”, afirma.

 

O impacto da diversidade nas empresas

 

Ter equipes diversas nas organizações reflete diretamente em áreas como inovação, performance, atração e retenção de talentos, reputação, impacto e consumo. Nas palavras de Grazi: “não é sobre o favor para os grupos sub-representados, mas sobre uma agenda que é estratégica para os negócios”.

 

Esse contexto também evidencia uma competência essencial no século XXI: a liderança inclusiva. Para alcançar posições almejadas nas melhores organizações, essa habilidade torna-se cada vez mais necessária.

 

Leia também Gabriela Prioli reflete sobre diversidade na perspectiva da eficiência.

 

No entanto, líderes inclusivos ainda são raramente encontrados. Atualmente, conforme pesquisa da consultoria Korn Ferry, somente 5% das lideranças globais podem ser consideradas inclusivas. No Brasil, essa parcela é ainda menor, apenas 2%.

 

“Vivemos um mundo de altíssima complexidade, um mundo Vuca, Bani, de novos contextos e desafios que requerem outras lógicas e, ao mesmo tempo, de dificuldade de encontrar respostas. Por isso, é tão importante ter lideranças capazes de nos conduzir a enfrentar essas mudanças, como a crise climática, o abismo social, a fome...”

 

Caminhos e desafios para organizações

 

Implementar diversidade e inclusão dentro das empresas enfrenta ainda o paradigma do conforto. Embora a homogeneidade traga conforme, é na diversidade que se aprende. Ela explica: enquanto times homogêneos tendem a reforçar um ponto de vista, equipes diversas trazem novas perspectivas e desenvolvem a curiosidade.

 

Portanto, propor e incentivar mudanças que envolvam questões estruturais e estruturantes, segundo a executiva, pode ser desconfortável, mas também é potente. Diante desse contexto, Grazi reforça que, sem intencionalidade, não há como criar espaços plurais e diversos. Além disso, enfatiza a necessidade de compreender que você também reproduz vieses.

 

“Para trabalhar diversidade, equidade e inclusão, você precisa trabalhar com estratégia, com um propósito claro e ter lideranças accountable responsáveis por isso. Precisa trabalhar na inclusão estrutural junto com a inclusão comportamental. E com isso usar dados, indicadores, feedback, acompanhamentos para continuar evoluindo”, observa.

 

Aulas ao Vivo FIA Online

As aulas ao vivo são uma oportunidade para a comunidade FIA Online conectar-se com as vivências, ideias e visão de mercado de grandes especialistas. A cada mês, um encontro proporciona uma experiência única de networking e aprendizagem.

Para participar, matricule-se e faça parte de uma das melhores e mais conceituadas Escolas de Negócios do mundo.

 

FIA Online. Você no radar das oportunidades.

DEIXE UM COMENTÁRIO

NAVEGUE POR CATEGORIA

Fique por dentro das últimas novidades da FIA Online

Assine aqui!