Júlio Lancellotti aborda direitos humanos no cotidiano das pessoas e das empresas
Referência nacional na defesa dos direitos humanos, padre Júlio Lancellotti foi o convidado da edição de outubro da Aula ao Vivo FIA Online, na última terça-feira (25). A cada mês, a iniciativa traz personalidades renomadas para tratar de temas que são destaque na atualidade.
Com mais de 30 anos de atuação voltada à assistência de pessoas em situação de vulnerabilidade social, Lancellotti é pedagogo e presbítero católico brasileiro, reconhecido por sua atuação junto à Pastoral do Povo da Rua de São Paulo.
No encontro para alunos da FIA Online e convidados, ele refletiu sobre o tema “Direitos humanos: uma questão para além das paredes corporativas”, ao lado de Rosa Maria Fischer, autoridade no estudo de assuntos como direitos humanos e empreendedorismo social.
Confira, a seguir, alguns insights da aula.
O conceito e a interpretação equivocada
Júlio iniciou citando a Declaração de Direitos Humanos, adotada em dezembro de 1948 pela Organização das Nações Unidas (ONU), após a Segunda Guerra Mundial. Assim, ressaltou que os direitos humanos são inerentes a todo ser humano, independentemente de classe social, gênero, religião ou qualquer outra questão.
Nas palavras dele, direitos humanos constituem o conjunto de direitos que toda pessoa tem garantido por sua condição de ser humano. Isso inclui o direito a ter um nome, ter reconhecida sua liberdade, ter liberdade de expressão, ou seja, não ser privada de nenhuma condição essencial para a vida.
“Direitos humanos são direitos fundamentais das pessoas e não privilégio de um grupo. São os direitos de todos nós. Aqui no Brasil, acabou se fazendo, há muitos anos, direitos humanos como sinônimo de direitos de bandidos. Não é isso, defender os direitos humanos significa defender os direitos de todas as pessoas”, afirmou.
Dessa forma, enfatizou que esses direitos não podem ser negados à população. “Se a pessoa está sentenciada, o crime não a despe da condição humana. Da mesma forma, a condição geográfica. Por exemplo, os pobres africanos não estão destituídos dos direitos humanos.”
Direitos humanos nas organizações
Na vida em sociedade, todas as relações têm por um ordenamento jurídico, o chamado Estado Democrático de Direito, a partir do qual se estabelece limites e possibilidades. E para as organizações não é diferente.
Nesse sentido, Lancellotti alertou que questões sociais vêm ganhando cada vez mais espaço nas corporações, seja através de ações que buscam promover a equiparação de gênero dentro das empresas, seja por meio de processos seletivos afirmativos, que buscam reparar o racismo histórico e estrutural, ou pela inclusão de pessoas trans no mundo corporativo.
“Hoje, qualquer empresa a qual for posto a público que em sua cadeia de produção tem utilização de mão de obra escrava, discriminação da mulher, discriminação de gênero, terá um grande prejuízo. Os direitos humanos perpassam todas essas situações.”
A importância de potencializar a humanização
Para estimular a construção de ambientes mais inclusivos, Lancellotti acredita na adoção de indicadores de humanização dentro das organizações. Esse esforço, segundo ele, deve começar nas atitudes e nos compromissos assumidos, para que todos se sintam acolhidos e pertencentes.
“Em uma empresa, ninguém pode ser invisível, nem o porteiro, nem o ascensorista, nem o varredor. A gente deve ter uma política de não desigualdade. O relatório da Oxfam deste ano se chama desigualdade mata. Eu vejo diariamente a morte nos olhos das pessoas em situação de rua. A gente não pode perder a sensibilidade, não pode não enxergar as pessoas”, comentou.
Lancellotti também lembrou que, no mundo corporativo, é comum que pessoas em posição de autoridade recebam tratamento diferenciado. Diante disso, frisou a necessidade de evitar privilégios que os afastam da convivência com os demais. Como exemplo, citou as secretarias estaduais em que os titulares não podem dividir o elevador com outras pessoas.
Em sua trajetória, Lancellotti vem denunciando e atuando contra a aporofobia - que significa aversão, medo e desprezo pelos pobres. São exemplos a colocação de pedras, grades e espetos de ferro no passeio público, para evitar a presença de pessoas em situação de rua. No entanto, ele destaca que os obstáculos nem sempre são visíveis.
“Eu percebo das pessoas que convivo na comunidade o medo de perder o emprego, de pensar, de falar qualquer coisa até o medo da roupa que está usando. A gente vive em um mundo diverso, de diferentes posições e opiniões. Por isso, é importante humanizar a vida nas organizações”, argumentou.
Conecte-se com referências do mercado
As aulas ao vivo são uma oportunidade para a comunidade FIA Online conectar-se com as vivências, ideias e visão de mercado de grandes especialistas e personalidades da atualidade. A cada mês, um encontro proporciona uma experiência única de networking e aprendizagem.
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