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Alinhar discurso e realidade é desafio de ESG para organizações

Ex-chefe de gabinete do Ministério do Meio Ambiente, Carlos Netto compartilhou sua visão e experiência com alunos e convidados da FIA Online.

 

 

 

A agenda ESG está na pauta das principais organizações, mas o quanto disso é retórica e o quanto é realidade? Diretor do Banco do Brasil entre 2008 e 2018 e chefe de gabinete do Ministério do Meio Ambiente e Mudança Climática no primeiro semestre de 2023, Carlos Netto abordou o tema na edição de agosto da Aula ao Vivo FIA Online.

 

Formado em História pela UFF-RJ, Carlos é pós-graduado em Marketing pela FGV-RJ, Mestre em Relações Internacionais pela UERJ, Mestre em Ciência da Informação pela UFRJ, Doutor em Psicologia Organizacional pela USP e Pós-doutor em Comunicação Social pela USP. Além disso, é autor do livro “A Arte nos Sonha” e proprietário da Inspirartes Produções Culturais.

 

A importância da integração entre economia e meio ambiente e os filtros necessários para avaliar os reais impactos do ESG foram destaques em sua fala. Confira, a seguir, alguns dos principais momentos.

 

Uma organização só entrega ao mundo aquilo que é

 

Por 37 anos, Carlos Netto trabalhou no ramo bancário, em uma trajetória profissional que foi de office boy a diretor. Em 9 de janeiro de 2023, um dia após os atos que levaram à invasão e depredações do patrimônio público em Brasília, assumiu o posto do Ministério do Meio Ambiente, com o desafio de atuar na reestruturação da pasta.

 

Antes disso, viveu por dois anos em Brumadinho, após o rompimento de uma barragem de minérios em 2019. Deixou o cargo de diretor estatutário para viver com as famílias das vítimas e sobreviventes da tragédia. “A forma que encontrei foi organizar eventos culturais, dar visibilidade e amplificar a voz das vítimas, de forma que a sociedade não esquecesse o que aconteceu ali”, diz.

 

Depois, teve uma experiência com produções culturais na favela da Maré e em Paraisópolis, comunidade que chegou a dar nome a uma novela, mas dessa experiência nada ficou. Nesta última, iniciou um projeto para construir com recursos da Lei Rouanet uma escola de teatro, cuja gestão seria feita pelos próprios moradores locais.

 

Para Carlos, o maior atributo de um profissional, de uma organização e de um governo é ter uma boa autocrítica e autoconsciência. Citando o livro ‘A natureza do espaço’, de Milton Santos, ressaltou que o que somos é um processo de escolha e essas escolhas não são por acaso. Elas são frutos de uma ação racional de como as pessoas interagem com o espaço.

 

“A forma como uma empresa se auto-organiza diz muito sobre a forma como ela vai se relacionar com o espaço. A gente não entrega ao mundo aquilo que a gente não tem. Espaço organizacional frágil, deficiente, vai entregar o produto de uma razão social deficiente” - Carlos Netto

 

É preciso recuperar o senso de coletividade

 

Construir a ponte entre o mundo das ideias e o necessário para transformá-las em realidade, segundo ele, é um desafio diário. E Carlos teve uma prova disso em Brumadinho, durante sua convivência com os sobreviventes, ao conhecer um senhor que havia perdido sua casa e bens com o rompimento da barragem.

 

Para ter uma indenização, havia duas alternativas: apresentar a nota fiscal dos bens perdidos ou entrar com uma ação na justiça e esperar por uma decisão favorável para ter uma restituição.

 

“Quem naquela situação (de sobrevivência) pegaria uma nota fiscal? O compliance e o jurídico podem desumanizar uma organização. Não adianta marca, não adianta discurso, porque na hora do debate histórias como essa aparecem.”

 

Para reforçar a importância de integrar economia e meio ambiente, Carlos trouxe ainda três pensadores que admira. O primeiro, Heráclito, afirma que a natureza está em constante movimento. O segundo, Francis Bacon, traz a ideia de que todos somos agentes ativos nos movimentos da natureza e podemos interferir no rumo das mudanças. Por fim, Hegel defende que “ninguém muda nada sozinho, mudamos em coletividade”.

 

“Quando você reativa conselhos ambientais e traz a sociedade para a discutir, isso é importante porque traz o debate, o contraditório, expõe argumentos. É diferente de você decidir e não trazer a sociedade organizada, trabalhadores, empresários. Isso é importante no debate”, pontua.

 

Percepção versus realidade

 

Segundo o convidado, falar em ESG é falar sobre a integridade de um tema que é declarado de dentro para fora. “Estamos falando daquilo que a empresa declara à percepção de quem vive os efeitos daquilo que é declarado.”

 

Carlos reconhece que valoriza empresas que apresentam relatórios para a transição de uma economia de baixo carbono, mesmo que recebam críticas e que suas informações sejam avaliadas por organizações independentes como de baixa integridade. “Elas têm o mérito da tentativa de transparência ou da busca por um caminho”, considera.

 

Dentro de um cenário que se encaminha para a transição para uma economia de baixo carbono, uma pesquisa da The Harris Poll ouviu 1500 CEOs de grandes empresas sobre as práticas relacionadas a ESG e sustentabilidade.


  • 58% afirmam praticar greenwashing,
  • 93% estão dispostos a atrelar metas ESG à remuneração de executivos,
  • 17% acompanham dados climáticos para elaboração de estratégia,
  • 74% concordam que mudanças climáticas afetarão os negócios da empresa que dirigem.

“Destes resultados, existem 25% de empresas que irão quebrar, eu arrisco dizer”, observa.

Carlos comentou ainda os avanços e oportunidades no cenário brasileiro. Entre outras questões, destacou os esforços pela regulação do crédito de carbono - que podem gerar uma injeção de 360 bilhões de dólares na economia –; o plano de transformação ecológica, que integra o programa PAC; as oportunidades para agricultura e negócios alinhados à bioeconomia nas áreas de farmacêutica, alimentícia, cosmético, entre outros.

 

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