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Zeina Latif analisa fatores para destravar a economia do Brasil

Consultora econômica com atuação destacada em instituições financeiras, ela analisou os aspectos que podem gerar uma dinâmica positiva para o desenvolvimento do País.

 

 

 

Doutora em Economia pela Universidade de São Paulo (USP), com passagens por diversas instituições financeiras, a consultora econômica Zeina Latif ministrou a Aula ao Vivo FIA Online do mês de julho.

 

Com o tema ‘O Brasil tem jeito?’, sua apresentação buscou discutir fatores que podem produzir uma dinâmica positiva para o País na direção do desenvolvimento econômico, em um futuro não tão distante.

 

Autora do livro ‘Nós do Brasil: Nossa herança e nossas escolhas’, Zeina foi economista-chefe da XP. Antes disso, trabalhou no Royal Bank of Scotland, ING, ABN-Amro Real e HSBC. Ainda integrou o Conselho para o Desenvolvimento Econômico e Social da Presidência da República no governo Michel Temer.

 

Acompanhe, a seguir, alguns insights dessa aula exclusiva.

 

Foco na produtividade

 

Zeina mostrou que, ao longo dos anos, o PIB per capita do Brasil apresentou crescimento menor que o de países da América Latina, que possuem um desenho de política macroeconômica semelhante, como Chile e Colômbia.

 

“O ciclo econômico no Brasil é mais volátil. Com mais frequência, o País enfrenta recessões. Esse ciclo econômico mais curto, essa oscilação maior do PIB, tem consequências. Isso impacta o ciclo de investimento, gera insegurança para quem está na linha de frente tomando decisões de investimento, e reduz o potencial de crescimento”, explicou.

 

Para destravar essa armadilha que impede o avanço econômico, é preciso observar o crescimento anual de produtividade. Isso, de acordo com a economista, é o que distingue países ricos daqueles que ainda não conseguiram chegar lá.

 

De 1995 a 2022, o setor do agronegócio foi o que apresentou o melhor desempenho no índice, um crescimento de 5,5%. Enquanto isso, a indústria recuou 0,4% e o ramo de serviços ganhou apenas 0,2% em produtividade.

 

Entraves e impulsionadores

 

Os ganhos em produtividade no agronegócio trazem algumas lições. De uma situação de insegurança alimentar a exportador, o setor tem grande importância na conquista do grau de investimento e na superação de fragilidades no País, além do avanço em indicadores sociais.

 

Como impulsionadores do setor, Zeina mencionou o investimento em pesquisas, capital humano e políticas públicas para criar vantagem competitiva. Ressaltou ainda que a complexidade do sistema tributário tem menos impacto sobre o setor.

 

Já entre os fatores que afetam o crescimento na indústria estão o aumento da participação do produto importado na nossa cesta, a desindustrialização, a qualidade da mão de obra e o ambiente de negócios.

 

“Cada vez que a gente fala da classe média comprimida, estamos falando de afetar setores que estão associados ao mercado em massa. O que falta para a indústria é um ambiente de negócios mais saudável. (...) A indústria não é pouco competitiva por causa do câmbio. A indústria é pouco competitiva porque a gente tem um ambiente de negócios muito ruim.”

 

Educação para salvar o País

 

Para melhorar o ambiente de negócios, mais do que discutir taxas, a consultora econômica afirma que é essencial focar no amadurecimento do debate público.

 

Ao analisar países que conseguiram superar a chamada armadilha da renda média e destravar seu desenvolvimento, Zeina afirma que não há fórmula mágica. Mas, entre os que alcançaram o feito dentro de um contexto democrático, o investimento em educação foi primordial.

 

A economista considera que o País demorou a olhar com atenção para a questão da educação. Embora o acesso universal tenha sido garantido na Constituição de 1988, ainda há muito a ser feito, uma vez que o índice de evasão no ensino médio ainda é alto.

 

“Sem educação, o próprio exercício da cidadania fica comprometido e isso tem um impacto enorme na economia. Não estou falando em aumentar recursos (e não quer dizer que não precise), mas na questão da gestão”, esclarece.

 

A economista ainda acrescenta: “Quando a gente olha histórias de países que deram certo num contexto democrático, isso passa por ter uma classe média representativa e usuária de serviço público. E isso acaba ajudando a moldar as políticas públicas”.

 

Os avanços que precisam ser feitos para proporcionar o crescimento do País, segundo Zeina, passam pela política. Isso porque, somente através do redesenho do sistema político, é possível fazer com que os anseios da sociedade sejam traduzidos para a agenda pública.

 

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