Para a tomada de decisão nos negócios, é fundamental um olhar sobre o mundo, o que significa analisar acontecimentos e contexto geopolítico e econômico. Este foi o foco da edição de setembro da Aula ao Vivo FIA Online, conduzida por Rubens Ricupero.
Diplomata, jurista, historiador, ex-ministro de Estado e professor universitário, Ricupero falou sobre o tema “Desafios e oportunidades para o Brasil. Como podemos ter um futuro melhor?” na noite de terça-feira (13), compartilhando um panorama das principais apostas e tendências.
Com mais de 40 anos de experiência diplomática, ele estima que o Brasil ainda enfrentará momentos imprevisíveis, mas destaca dois fatos que ficaram para trás. "Me refiro sobretudo a dois choques negativos: primeiro, a guerra na Ucrânia e, em segundo lugar, a volta da inflação na economia mundial”, afirmou.
Com o mundo se encaminhando para a saída da pandemia e enfrentando questões como o impacto da guerra e a crise da energia e dos alimentos de forma adequada, ele acredita o que contexto internacional permite aos brasileiros seguir trabalhando pela resolução de problemas do País.
Acompanhe, a seguir, alguns dos principais insights compartilhados em aula por Ricupero.
Na percepção de Ricupero, a guerra na Ucrânia traz reflexos que podem inaugurar uma nova era na história do mundo. Segundo ele, a invasão daquele país pela Rússia, uma nação mais poderosa em busca de poder e invocando o uso de armas nucleares, era algo inimaginável desde a Segunda Guerra Mundial.
“Creio que o mundo já se recobrou do choque inicial, embora não saibamos quando a guerra irá terminar, tudo indica que não sairá como Putin imaginou. Ele superestimou a força do exército russo e subestimou a resistência dos ucranianos”, observou.
Para Ricupero, autor de livros e ensaios sobre a história diplomática brasileira e as relações internacionais, mesmo que a guerra ainda esteja em curso, ela não vem ocorrendo conforme calculado por Putin. Somente o apoio dos Estados Unidos já representa mais 14 bilhões de dólares entregues na forma de armamento. Esse insucesso no conflito pode provocar mudanças na Rússia.
Portanto, espera-se que a guerra ceda lugar a um final que permita a reconciliação e que se evite o fenômeno da polarização. “A rivalidade sempre vai haver, mas que essa rivalidade se cumpra em um terreno positivo, das tecnologias, das pesquisas, da ciência, do comércio, da economia. Não do conflito armado e da divisão do mundo em dois campos irreconciliáveis.”
O segundo destaque trazido por Ricupero foi o retorno da inflação à economia mundial. “Não me refiro ao Brasil, porque só conseguimos evitar a hiperinflação com o Plano Real, mas, no mundo desenvolvido, a inflação havia praticamente desaparecido já nos anos 1980. O mundo industrializado avançado viveu um período de baixíssima inflação, que os economistas costumam chamar de moderação”, pontuou.
O jurista, que já ocupou o posto de ministro da Fazenda (1994), recordou episódios que abalaram a economia mundial, como a crise de financeira de 2008 e a pandemia de covid-19 - momentos que geraram um novo golpe em nações ainda não recuperadas. Também citou medidas implementadas pelos governos e bancos centrais para equilibrar a economia.
As particularidades da pandemia trouxeram impactos na economia dos países em tempos diferentes, além de altos gastos para combater à doença e enormes perdas devido à redução de produção. Com isso, a inflação voltou a preocupar quase todos os países, ricos ou pobres.
Desde então, diversas medidas foram implementadas para frear a inflação, como o aumento de taxa de juros. Em sua apresentação, Ricupero analisou o cenário para economia dos Estados Unidos, Europa e América Latina, compreendendo que a batalha ainda não está ganha, mas tampouco o cenário é desastroso.
Quanto às perspectivas para a economia brasileira, Ricupero apontou o setor de serviços como a força que a impulsiona atualmente. “A retomada dos serviços, restaurantes, hotéis e viagens, somada a programas de auxílio e saque FGTS... Tudo isso reativou a economia e vamos ter um ano melhor que o esperado”, comentou.
A questão, segundo ele, é como manter isso no próximo ano, uma vez que chegará o momento em que um ajuste fiscal terá que ser feito, e esse será o grande desafio do próximo governo. Ricupero destacou que, nos últimos anos, o Banco Central conseguiu agir para combater a inflação e que o País está mantendo a geração de empregos, o que contribui para a recuperação econômica.
“Os problemas não desapareceram, mas estamos caminhando, não estamos parados, e estamos no rumo certo. Estamos com uma dinâmica positiva, embora as perspectivas devam ser sóbrias”, afirmou.
Ricupero ressaltou que, há tempos, o Brasil não cresce de forma satisfatória e creditou esse desempenho a um atraso em infraestrutura. Estruturas como portos, ferrovias e hidrovias necessitam de investimentos a longo prazo, que precisam de segurança jurídica para serem amortizados. Portanto, é preciso buscar um contexto socioeconômico que garanta o investimento a longo prazo.
Ex-ministro do Meio Ambiente e da Amazônia Legal, Ricupero lembrou que o Brasil possui a maior reserva de água doce do mundo, uma das maiores biodiversidades, reservas de recursos e potencial em biomassa.
Nesse contexto, o País tem potencial para chegar em 2040 com carbono negativo e, até mesmo, para vender créditos a nações que não conseguem evitar as emissões. “Temos uma verdadeira ‘mina de ouro’ e, se soubermos ter uma política ambiental, podemos transformar isso em oportunidade.”
A capacitação dos recursos humanos do Brasil é outra aposta de Ricupero. Na sua percepção, a melhoria do acervo de conhecimento das pessoas é um investimento de impacto para toda a economia do País. Conforme o ex-embaixador, é necessário desenvolver a capacidade de administrar sociedades complexas, o que somente será possível através do conhecimento.
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